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Abutre-preto devolvido à Natureza volta a “abraçar” a liberdade

Um exemplar de abutre-preto (Aegypius monachus) foi devolvido à Natureza esta quarta-feira, 23 de janeiro, no Miradouro do Carrascalinho, na freguesia de Lagoaça e Fornos, no concelho de Freixo de Espada à Cinta, distrito de Bragança, por vários técnicos e especialistas em fauna selvagem.



A devolução desta ave à Natureza só foi possível depois de a espécie ter passado por um processo de recuperação que envolveu várias entidades. O animal juvenil foi encontrado muito debilitado fisicamente no início de outubro de 2018 no centro de Valongo, junto a uma rotunda numa zona urbana, um local improvável, tendo sido levado para o Parque Biológico de Gaia, no concelho de Vila Nova de Gaia, onde foi primeiramente acolhido. Posteriormente, foi transferido para o Centro de Recuperação de Animais Selvagens do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (CRAS/HV/UTAD), em Vila Real.


A ave terminou o seu processo de recuperação no Centro de Interpretação Ambiental e Recuperação Animal (CIARA), em Felgar, Torre de Moncorvo. Antes de ser libertado, e para assegurar o seu seguimento e monitorização, foi colocado neste abutre-preto uma anilha e um transmissor GPS fornecido pela Vulture Conservation Foundation (VCF).

A marcação de aves com transmissores GPS permite conhecer em detalhe o movimento destes animais e obter um volume de informação muito grande e pormenorizado. Através da marcação das aves com estes dispositivos, tem sido possível realizar avanços significativos no que se refere ao conhecimento das rotas de migração das espécies estudadas, principalmente de aves que efetuam grandes movimentos migratórios. Estes dispositivos permitem ainda identificar locais em que ocorrem elevadas taxas de mortalidade das aves, como, por exemplo, linhas elétricas, onde os animais morrem muitas vezes por colisão e/ou eletrocussão. O uso de transmissores GPS permite também obter um conhecimento mais profundo das diversas espécies de aves e respetivas populações, como as suas rotas migratórias, longevidade, mortalidade, territorialidade, comportamento alimentar, entre outros aspetos. Todas estas informações são essenciais para promover a sua conservação.


De forma a aproveitar este momento único de devolução de um animal no seu meio natural para sensibilizar para a sua importância e papel fundamental nos ecossistemas, no âmbito da ação E3 do projeto LIFE Rupis, uma turma do 4.º ano do agrupamento de escolas de Mogadouro, com 20 alunos, foi convidada a presenciar a libertação da ave. O transporte dos alunos até ao Miradouro do Carrascalinho foi assegurado pela Câmara Municipal de Mogadouro.


Também estiveram presentes representantes de várias entidades e associações que trabalham na área da conservação e proteção da biodiversidade, nomeadamente da Palombar, da ATNatureza, do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF)/Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), em representação do projeto LIFE Rupis, do CRAS/HV/UTAD, do Parque Biológico de Gaia, do CIARA, da Associação de Municípios do Baixo Sabor e da Oriolus. A comunicação social também marcou presença, nomeadamente a RTP e a SIC. No total, presenciaram a libertação do animal cerca de 50 pessoas.


Sobre o abutre-preto


O abutre-preto (Aegypius monachus) é uma ave de grandes dimensões, apresentando uma envergadura que pode atingir os 3 metros. Mesmo a uma grande altura, é possível ver a sua grande silhueta escura a planar nos céus. Tem um estatuto de conservação “Criticamente em Perigo” no território nacional, de acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.


Esta ave prefere viver em locais longínquos próximos a matagais arborizados, principalmente junto a encostas bastante íngremes em áreas montanhosas ou em vales de rios. Tem hábitos alimentares quase exclusivamente necrófagos. Carcaças de médio e grande porte de ovelhas, cabras, vacas, cervídeos e coelhos fazem parte da sua dieta. O abutre-preto alimenta-se sozinho ou em pequenos grupos e pode regressar à mesma carcaça durante vários dias.


Esta espécie faz ninhos quase exclusivamente em árvores e pode nidificar sozinha ou em colónias. A relação entre o casal pode durar para a toda a vida e ambos os progenitores cuidam da cria. Somente um ovo é posto por cada época reprodutiva, que ocorre entre fevereiro e início de março.


O abutre-preto está presente no Parque Natural do Douro Internacional. Em 2012, foi registado um casal nidificante da espécie nesta região, onde se estabeleceu e permanece desde então. Esta ave costuma também ser avistada no Parque Nacional da Peneda-Gerês e no Parque Natural de Montesinho, sozinho ou juntamente com bandos de grifos.


O abutre-preto beneficia de ações do projeto LIFE Rupis e é uma das espécies-alvo de conservação do projeto ConnectNatura da Palombar.


Sobre o LIFE Rupis


O LIFE Rupis – Conservação do Britango (Neophron percnopterus) e da Águia-perdigueira (Aquila fasciata) no vale do rio Douro (www.rupis.pt) é um projeto de conservação transfronteiriço, com a duração de quatro anos (2015 – 2019), cofinanciado através do programa LIFE da Comissão Europeia.


O projeto LIFE Rupis é coordenado pela Sociedade Portuguesa Para o Estudo das Aves (SPEA) e conta com vários parceiros nacionais e internacionais, entre os quais a Palombar.


O projeto, que decorre em território português e espanhol, mais concretamente na Zona de Proteção Especial (ZPE) Douro Internacional e Vale do Águeda e na Zona de Especial Protección para las Aves (ZEPA) Arribes del Duero, pretende implementar ações que visam reforçar as populações de duas espécies prioritárias da Diretiva Aves nesta região, nomeadamente o britango (Neophron percnopterus) e a águia-perdigueira (Aquila fasciata), através da redução da sua mortalidade e do aumento do seu sucesso reprodutor.


As ações do LIFE Rupis beneficiam também outras espécies com estatuto de conservação igualmente desfavorável como é o caso do abutre-preto (Aegypius monachus) e do milhafre-real (Milvus milvus). As populações destas espécies encontram-se em declínio, estando globalmente ameaçadas, em particular na Península Ibérica.

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